0

O pensamento de Confúcio na vida atual

Posted by Cottidianos on 01:44
Domingo, 29 de outubro


Abra os jornais diários. Ligue a TV. Veja as revistas semanais, os tabloides, o que se diz do factual é algo bem diferente do que poderíamos entender como o mundo ideal.

Esses veículos de comunicação, em qualquer país do mundo, estão a estampar em suas manchetes notícias de guerras, atentados terroristas, corrupção, violência. É um turbilhão de más notícias que acabam atingindo nossas mentes. É preciso também fugir um pouco dessa loucura, até para não ficarmos também nós, loucos, paranoicos.

Há instituições que oferecem serviço gratuitos, ou que oferecem serviços pagos, e que ajudam a jogar fora o lixo mental que acumulamos diariamente. Estas instituições ajudam a reciclar a nossa visão de mundo, nosso pensamento, fazendo-nos encontrar veredas de reflexão e esperança que nos guiem em meio ao sertão desolador que se tornou o nosso conturbado mundo atual.

Em Campinas, uma destas instituições que oferecem um serviço aberto ao público é o Instituto CPFL Cultura. O instituto oferece ao público programas culturais que auxiliam os que acorrem ao espaço cultural na busca do conhecimento e reflexão sobre os desafios e oportunidades de nosso mundo contemporâneo.

Neste mês de outubro, o Instituto CPFL — Companhia Paulista de Força e Luz Cultura — apresentou um módulo de palestras organizadas no sentido de levar ao público uma compreensão da cultura chinesa, para depois usá-la como reflexão. O módulo intitulado: Confúcio bebendo chá – cultura milenar chinesa na vida contemporânea — com curadoria do Instituto Confúcio da Unicamp — apresentou duas palestras referentes ao tema: O pensamento de Confúcio na vida atual (20), e O chá como vida, a vida como chá (27).

A peça de divulgação que chamava os interessados em comparecer ao evento dizia: “Quais são os enigmas da civilização chinesa, que se propagou milenar e ininterruptamente? Como as pessoas pensam num país que se localiza no outro lado do mundo? Como as pessoas tratam da vida e da sociedade? Compreendendo o mestre Confúcio, estas perguntas serão respondidas”.


O advogado, Alexandre Vasques, Alex Vasques, como gosta de ser chamado, foi ao Café Filosófico do CPFL para assistir a palestra, O pensamento de Confúcio na vida atual, no dia 20 de outubro, e enviou um texto para ser compartilhado por este blog, no que foi prontamente atendido. A palestra foi proferida por Quinxiang Gao, professor da Beijing Jiaotong Universiy e diretor do Instituto Confúcio na Unicamp, e Antonio Florentino Neto, filósofo e professor da Unicamp. Os dois palestrantes apresentaram o pensamento do mestre Confúcio, que exerceu uma influência fundamental na China, bem como no desenvolvimento da sociedade chinesa e do pensamento dos chineses.

***



O pensamento de Confúcio na vida atual

Por Alex Vasques

Aproveito o tema com uma reflexão atual (e relembrado no Evento), encontrada em tradução da obra mais fundamental e conhecida de Confúcio, precisamente nos escritos do Analectos, II, 3:

Governa por meio de decretos e leis, disciplina por meio de sanções, e a população usará subterfúgios e não terá consciência. Guia-a pela virtude e pela moral, e ela terá consciência e alcançará o bem comum.

Noite agradável, novamente com grande cuidado da Equipe do Centro Cultural, desde a recepção, acomodação, iluminação e requintado (e caro) buffet, em que o Professor Gao, notável pela sua simpatia e sorriso presente, trouxe detalhes da evolução cultural da China, indissociável de uma matriz confucionista, assinalando que a orientalização, ocidentalização ou mesmo colonização seriam conceitos que gerariam desarmonia e conflitos improdutivos, sendo melhores substituídos pelos valores e paradigmas do desenvolvimento humano com a assimilação das diferentes culturas, com empenho para a tolerância e para a elevação do respeito humano.

Por sua vez, o Professor Florentino, ágil e transbordante em conhecimento eclético, destacou as diferenças existentes entre a sociedade formada por indivíduos voltados para si, incluindo essa crença ocidental em uma essência isolada e que inclinaria para uma ilusão de autossuficiência, que seriam pilares do modelo capitalista, em contraponto com a visão oriental, que pode ser observada aplicada, com naturalidade, inclusive nos ambientes de negócios chineses, consistente na elementar oposição taoista do yn e do yang, de forma sempre complementar, com relevo para as relações, incluindo o relacionamento entre as pessoas, pois que, fora dessas relações, individualmente nada existiria de fato.

No encerramento, como de costume, houve extenso debate sobre os principais temas abordados.

De nossa parte, ora acrescentamos em exercício crítico sobre as inúmeras polêmicas envolvendo, por exemplo, os catastróficos desastres ambientais globais promovidos pela política de produção chinesa ou, no campo dos Direitos e Liberdades Humanas, acerca do condicionamento para constante vigilância política e de opinião de todos sobre todos, ou mesmo, dos resultados de violência e da centralização de força estatal ou ainda, dos níveis conhecidos de corrupção e segurança pública, todas estas e outras questões que podem ser lembradas e fomentadas pelos ilustres visitantes e colaboradores do Blog. Fica o convite.

0

Quem fala demais, dá bom dia a cavalo

Posted by Cottidianos on 01:00
Sexta-feira, 27 de outubro


E ele se vai. Vai para bem longe. Cerca de 1.460 km de onde se encontra atualmente. Vai para residir com gente da qualidade dele, dizendo em linguagem vulgar, de gente da laia dele. Por quanto tempo não se sabe ao certo, mas que ele recebeu uma grande lição, ah isso recebeu. Não sei se aprendeu alguma coisa com isso.

Por “ele”, entenda-se o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O ex-governador vai ser transferido para a penitenciária de segurança máxima de Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul.

No Brasil existem quatro penitenciárias de segurança máxima: Penitenciária Federal de Catanduvas (Paraná), Penitenciária Federal de Porto Velho (Rondônia), Penitenciária Federal de Mossoró (Rio Grande do Norte), e a de Campo Grande, para onde vai Sérgio Cabral. Todas elas foram construídas usando equipamentos e modernos sistemas de vigilância, com a finalidade de isolar presos perigosos de todo o país.

A população carcerária de Campo Grande é formada, principalmente, por perigosos traficantes e chefes de facções criminosas.

Apesar de ser vizinho de toda essa gente perigosa, Cabral não vai dividir a mesma cela com eles. Ele vai ficar em uma área do presídio separada desses bandidos. As celas da penitenciária de Campo Grande são individuais, mas não tem lá muito luxo não: uma cela simples, com 7 metros quadrados, banheiro, cama, e escrivaninha.

Onde está atualmente, em Benfica, no Rio, Cabral divide a cela com outros 04 detentos, e tem o direito de poder assistir TV. Em Campo Grande, perde as companhias e o direito a ver televisão.

O ex-governador será levado de avião até sua nova “residência”, entretanto, por segurança, o Departamento Penitenciário Nacional não vai divulgar a data da transferência do preso. A transferência de Sérgio Cabral do Rio para Campo Grande foi um pedido do Ministério Público Federal.

E porque o MP tomou essa decisão dura em relação ao ex-governador? Porque ele falou demais, deu com a língua nos dentes. Já dizia o velho ditado popular: “Quem fala demais, dá bom dia a cavalo”.

Foi durante uma audiência com o juiz Marcelo Bretas, da 7a Vara Federal do Rio, na segunda-feira (23). Talvez o ex-governador estivesse meio descontrolado, a fim de falar mal de alguém... E falou mal do cara errado.

Já no inicio da audiência, Cabral reclamou de duas sentenças dadas por Bretas. Uma na qual o juiz sentencia o preso a 45 anos, e outra em 13 anos de prisão.      O preso disse verificar que o juiz não acreditava nele.  O juiz disse que não queria falar de fatos já julgados. Já foi um alerta para Cabral, mas ele não entendeu a deixa do juiz.

A audiência do último dia 23 versava sobre a acusação de que o ex-governador havia comprado R$ 4,5 milhões em joias para lavar dinheiro. Ao invés de Sérgio Cabral se limitar as perguntas feitas pelo juiz, ele contra argumentou dizendo que o juiz Marcelo Bretas, devia conhecer em o assunto pelo fato de a família do juiz trabalhar com bijuterias. O juiz não gostou nenhum pouco desse comentário.

Entre os dois se deu o seguinte dialogo:

Sergio Cabral: Não se lava dinheiro comprando joias. Vossa excelência tem um relativo conhecimento sobre o assunto, porque sua família mexe com bijuterias. Se não me engano, é a maior empresa de bijuterias do estado. Então, a vossa excelência conhece...
Marcelo Bretas: Eu discordo...
Sergio Cabral: São as informações que me chegaram...
Marcelo Bretas: Eu acho melhor fazer perguntas, porque eu não quero que o senhor conte histórico da minha família, não estou interessado em saber o que o senhor conseguiu a respeito. O senhor comprou essas joias? O senhor comprou?
Sergio Cabral: Vossa excelência sabe que joias, quando são compradas, e saem da loja, elas já saem sem o valor da vitrine.
Marcelo Bretas: Eu não sei nada, senhor Sérgio. Eu quero que o senhor me diga: o senhor comprou essas joias todas que estão com o estado?
Sergio Cabral: Então, sobre a denúncia, o que eu estou lhe dizendo que eu comprei as joias, fruto de caixa dois de campanha, o que vossa excelência não acredita.
Marcelo Bretas: Não acreditei.
Sergio Cabral: Eu fui o maior arrecadador, não foi fruto de propina.
Depois o juiz quis saber de Cabral se ele havia feito uso de joias para pagar outras joias. Cabral foi bastante irônico chamando o caso de “teatro das joias”, montado pelo Ministério Público, acrescentando que era “um teatro mal feito, um teatro de corta e cola”.

A audiência foi tensa do início ao fim. Cabral a tornou tensa. A esse momento tenso do “teatro das joias”, seguiu-se outro, que foi quando o juiz questionou a forma como Cabral pagou as joias.

Cabral dizia que o pagamento era fruto de caixa dois de campanha eleitoral. O juiz chamou a atenção para o fato de que os pagamentos eram feitos em períodos constantes e não apenas em época de eleição.

Aos questionamentos do juiz, Cabral deu uma resposta extremamente arrogante, nem parecia que estava em audiência, perante um juiz. Disse o ex-governador: “O senhor não entendeu ainda que o processo eleitoral se dá antes, durante e depois de campanhas, e que eu chefiei, eu fui, queira o senhor ou não, eu fui o líder desse estado. Queira o senhor ou não”. Bretas, bastante surpreso, talvez mais irritado que surpreso, disse: “Como assim queira? Não estou entendendo”.

Acham que o caldeirão está quente? Ferver ele iria ainda mais.

Em certo momento da audiência, o ex-governador se disse injustiçado, e que o juiz estava querendo se projetar, através dele, Cabral. Entre os dois se deu o seguinte diálogo:

Marcelo Bretas: O senhor está querendo criar, mais uma vez, aquele discurso de injustiçado...
Sergio Cabral: Eu não estou querendo criar discurso nenhum, eu já fiz muito discurso na vida. Eu estou sendo injustiçado. Eu estou sendo injustiçado. Mas é o meu direito de dizer que eu estou sendo injustiçado. O senhor está encontrando em mim uma possibilidade de gerar uma projeção pessoal, projeção pessoal, e me fazendo um calvário, me fazendo um calvário, claramente...
Marcelo Bretas: Eu espero que o advogado não esteja orientando essa linha de defesa.
Advogado de Cabral: É ofensivo o senhor dizer isso para mim. Mas eu vou lhe pedir a suspensão do ato, um pouquinho.
O juiz resolveu então suspender a audiência por cinco minutos, porém, antes deu um aviso a defesa de Cabral, dizendo que não recebera com bons olhos a citação de que a família dele trabalha com bijuteria. Dizendo que era o tipo de coisa que poderia ser entendida como uma ameaça.

Os advogados de defesa de Cabral devem ter puxado a orelha dele durante os cincos minutos em que a audiência ficou suspensa, pois, no retorno aos trabalhos, a audiência correu mais tranquila.

Ao final da audiência o Ministério Público pediu a transferência de Cabral para um presídio federal por causa das ameaças que o preso havia feito à família do juiz. Pedido prontamente aceito pelo juiz Marcelo Bretas. “Será possível que isso aqui representou algum tipo de ameaça velada? Eu não sei. É inusual. De fato, é. Bom, o fato é que como seja, ainda que levemente, sutilmente, existir a possibilidade de que se esteja tentando de alguma forma obstaculizar ou impedir que prossigam os trabalhos, seja por demonstração de que a segurança ou o controle na custódia não é tão efetivo assim, não está funcionando, eu concordo com a preocupação do Ministério Público. Portanto, eu determino que ele seja transferido para um estabelecimento federal”, disse o magistrado.

Quando os cariocas elegeram, em 2006, o governador Sérgio Cabral, em segundo turno, e depois o reelegeram em 2010, qual deles imaginaria que estavam colocando no principal posto de comando do estado, um bandido? Qual dos cariocas imaginaria que estavam entregando o governo nas mãos de um aproveitador que levaria o estado a falência? Qual dos brasileiros imaginaria que, por trás daquela cara de bom moço, homem do PMDB, se escondia uma raposa pronta a rapinar o galinheiro?

Sérgio Cabral é do PMDB. Eduardo Cunha é do PMDB. Gedel Vieira Lima é do PMDB. Henrique Alves é do PMDB. Michel Temer é do PMDB. Prestem atenção no tipo de político que vem desse partido. É gente perigosa. Assim como existe gente perigosa também no PT, no PSDB, no PPS, e em outros partidos políticos, que usam o nome de partidos para desenvolverem suas atividades criminosas.

Os questionamentos feitos acima acerca dos cariocas servem também para todo o eleitorado brasileiro. Será que nas próximas eleições ele, o eleitorado brasileiro, não estará elegendo como chefe da nação um homem que fará o Brasil retroceder ainda mais? Será que o povo brasileiro não estará escolhendo um chefe que jogará o país na lama?

É preciso pensar bem antes de sair votando no primeiro que aparece prometendo fazer milagres.

Por falar em presídios, aproveitadores, e coisa e tal, Temer se livrou da segunda denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria Geral da República. Surpresa? Nenhuma. Aliás, este blog já os havia prevenido a respeito desse resultado. Ora, pois se os atores eram os mesmos, o cenário era o mesmo, e os métodos usados pelo presidente para comprar deputados eram os mesmos, o resultado não poderia ser diferente. Eles, definitivamente, perderam todo o pudor, se é que ainda existia algum, naquela casa legislativa.

Temer obteve 251 votos a favor, 233 contra, e 25 ausências. Foi quase uma reprise de novela entediante. Só não foi reprise porque o presidente teve 12 votos a menos em relação a primeira denúncia. Porém os métodos de compra de deputados, isso sim, foi reprise, com mais dinheiro saindo dos cofres públicos, em um mar de corrupção a céu aberto.

E ainda por cima temos de ouvir o presidente fazer demagogia e dizer que o Brasil avançou mesmo nesses tempos tempestuosos que rondaram as denuncias contra ele. Engana-se quem pensa que o presidente Michel Temer faz um governo para os brasileiros. Ele governa sim, para aqueles políticos e empresários que lhe são subservientes, e que podem mantê-lo na cadeira presidencial até o fim do mandato.

0

Patrões, governos e magistrados perversos

Posted by Cottidianos on 00:48
Terça-feira, 24 de outubro


Hoje, ainda este blog não apresenta texto de autoria própria, peço desculpas aos leitores, mas também não poderia deixar de passar e deixar uma palavra acerca do que acontece em nosso país e que indigna a todos.
Na semana passada, o governo Temer, através de uma Portaria — ato que não exige consulta ao poder legislativo — alterou, radicalmente, o conceito de trabalho escravo, a despeito de todos os setores da sociedade se manifestando contrários a tal atitude. Simplesmente assim: ditador, como tem sido desde o início do seu governo, Temer retrocede na questão dos direitos humanos e dos direitos trabalhistas de uma tacada só.
Toda a sociedade ficou estarrecida com a medida. Minto. Tem uma classe que ficou hipersatisfeita: a bancada ruralista de quem Temer, deseja ardentemente, os votos para barrar a segunda denúncia contra ele na Câmara.
É, caros leitores, a coisa em Brasília está tão feia que, pelo poder, se vende a alma ao diabo, sem cerimônia.
Como foi dito acima, esse blog não vai se estender sobre esse assunto, que, dentre outros, será assunto da próxima postagem.
No meio disso tudo, o ministro Gilmar Mendes desferiu uma sátira ferina, contra as vitimas dessa história horrível que é a escravidão moderna. Ao invés de se voltar contra os opressores, pasmem os senhores, o magistrado se colocou ao lado deles. No livro, A Travessia do Oposto, a grande dama das letras, Clarice Lispector, diz que a sátira é usada para “alterar, menosprezar, ferir”. Ora senhor magistrado, quem fere a frágil vítima, ao invés do opressor, é covarde. Faz injustiça,e não justiça.
O fato que provocou tanta polêmica foi que, questionado a respeito da Portaria do governo que altera o conceito de trabalho escravo, Gilmar Mendes, disse o seguinte: “O importante, aqui, é tratar do tema num perfil técnico, não ideologizado. Há muita discussão em torno disso. Nós já tivemos no Supremo debates a propósito disso, em que se diz que alguém se submete a um trabalho estressante, exaustivo. Eu, por exemplo, eu acho que me submeto a um trabalho exaustivo, mas com prazer. Eu não acho que faço trabalho escravo”.
Realmente, uma muito infeliz comparação entre a situação do ministro que tem por ofício aquilo que gosta de fazer e que lhe dá prazer, e que além disso, lhe proporciona um salário estratosférico se comparado a grande maioria dos brasileiros, e mais ainda, em comparação com as condições de trabalho daqueles que vivem nos campos de concentração das fazendas brasileiras, sob o comando de patrões tiranos e perversos, assim como também se mostra tirano e perverso o governo Temer.
Mas, fiquemos, por enquanto, com a análise desta atitude do ministro Gilmar Mendes, feita pelo colunista do jornal El País Brasil, Juan Arias. O artigo escrito pelo jornalista, intitulado, A ironiabumerangue de Gilmar Mendes sobre o trabalho escravo, é reproduzido abaixo.
***


A ironia bumerangue de Gilmar Mendes sobre o trabalho escravo
O juiz não entendeu é que a ironia e a sátira compõem um dos gêneros literários mais difíceis de se usar

É possível que o polêmico juiz do STF e presidente do TSE, Gilmar Mendes, esteja se perguntando por que a sua ironia sobre o trabalho escravo acabou virando um bumerangue que colocou as redes sociais contra ele.
A sociedade brasileira, desta vez sem opiniões divididas, caiu com tudo sobre o magistrado. O que ele disse para suscitar tanta ira? Lembremos. O governo conservador de Temer está tentando atenuar a legislação que pune, no Brasil, o trabalho realizado em condições de escravidão, o que significa um retrocesso grave na luta contra os novos senhores de escravos. A sociedade se rebelou a tal ponto que Temer acabou prometendo rever alguns itens da nova lei.
Diante de uma sociedade indignada com o governo, ocorreu ao magistrado a ideia de tratar do assunto com uma ironia barata. “Eu me submeto a um trabalho exaustivo, mas com prazer, e não considero que isso seja trabalho escravo”, comentou, e, insistindo em sua ironia, perguntou se também seria trabalho escravo “o dos motoristas dos juízes do Supremo que ficam esperando no subsolo da garagem”. Era como dizer: não exageremos querendo ver como escravo todo e qualquer trabalho.
O que o juiz não entendeu é que a ironia e a sátira compõem um dos gêneros literários mais difíceis e perigosos de se usar. É preciso uma inteligência aguçada para adotá-lo. Caso contrário, ele se transforma, como neste caso, em um bumerangue.
Gilmar Mendes não entendeu que, desde os gregos até os nossos dias, passando pelos romanos, a sátira deve ser dirigida contra os carrascos e não contra as vítimas. Por isso ela é libertadora. Com sua ironia, o magistrado mostrou não entender — ou será que entendeu, sim? — que o que ele estava fazendo era apoiar a flexibilização da legislação contra o trabalho escravo.
Mendes não entendeu que o que ele fez foi ofender não só os milhões de trabalhadores que ainda hoje vivem em situações degradantes, mas também os milhões de trabalhadores comuns, como são aqueles que não têm a sorte, como ele, de trabalhar com algo que “lhe dá prazer” e, além disso, uma remuneração elevada, quando se sabe que o trabalho é muitas vezes alienante, burocrático, mal remunerado, que as pessoas aceitam não por gosto ou por prazer, mas porque precisam viver e sustentar uma família. E esse é o caso da grande maioria.
Muito sangue dos antigos escravos ainda corre nas veias do Brasil, assim como corre muita dor, a dor dos milhões de trabalhadores que, por culpa de gigantesca desigualdade social que castiga o país, se veem obrigados, tantas vezes, a realizar um trabalho que traz consigo as marcas da velha escravidão. Faz sentido fazer humor com eles?
Nada contra o uso da sátira, que é o sal que dá sabor à dureza da vida e aos abusos de poder. Nada mais eficaz do que uma charge inteligente para colocar de joelhos um canalha ou desinchar o ego de quem se acha acima dos outros. Ninguém se incomoda mais com a sátira do que os poderosos. Muitas vezes, uma boa charge acaba se transformando no melhor editorial de um jornal.

Todos os autoritários sempre tiveram pavor da ironia, e continuam tendo. Em uma charge que vi reproduzida dias atrás no Facebook e que certamente se referia à ironia feita pelo magistrado brasileiro, aparece um trabalhador baixinho com uma corrente de ferro no pescoço. Seu chefe, alto, vestido de preto, olha para ele e diz: “Se a corrente está frouxa não é trabalho escravo”. O título da charge é: FLEXIBILIZOU. Isso sim, Excelência, é uma sátira inteligente.

0

Brasil político: um barco à deriva

Posted by Cottidianos on 01:26
Domingo, 15 de outubro


Antes de irmos para os caminhos tortos da política, lembremos que na madrugada deste sábado para domingo, começou o horário de verão. Portanto não esqueça de adiantar o seu relógio em uma hora, se você mora nos seguintes estados brasileiros da regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste; São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. O horário de verão vigora até 18 de fevereiro de 2018.
***

Quando se pensa na atual conjuntura política brasileira não se pode deixar de refletir sobre o quão atrasados, não em termos das bases estruturais da democracia, nem sobre o funcionamento das instituições. Vivemos em país democrático é verdade. Nele, os órgãos institucionais governamentais, bem ou mal, funcionam e exercem seu papel dentro da máquina burocrática. As liberdades dos cidadãos não são tolhidas como em muitos outros países.
Não se questiona o sistema democrático brasileiro, mas a qualidade dos líderes que o compõem. De repente, descobrimos que dentro do mais profundo das máquinas que regem o nosso regime democrático, instalaram-se políticos que não usam mais o dialogo com a sociedade e com suas bases para fazer política, mas sim, que dentro desse valioso maquinário democrático, instalaram-se pessoas dispostas a retirar dos cofres públicos até o último níquel para satisfazer suas necessidades mesquinhas.
No atual cenário político, se pudéssemos comparar a política a uma empresa, teríamos uma empresa a beira da falência, agonizando, por causa da ingerência, e de pessoas que, simplesmente, não sabem mais o que é o fazer política, e, por causa dessa gente que apenas sabe fazer negociata, é preciso repensar toda uma estrutura. Mas esse repensar toda uma estrutura não pode se dar apenas dentro das quatro paredes do Congresso Nacional, pois lá, se há pessoas interessadas em que o Brasil seja passado à limpo, essas são pouquíssimas.
A maioria dos políticos que lá estão apenas preocupam-se com três coisas: salvar a própria pele, salvar a pele dos companheiros de negociatas escusas, e preservar os privilégios obtidos através dessa nefasta rede de propinas que costura os bastidores do jogo sujo da política.
O repensar uma mudança no Brasil deveria passar por um diálogo com toda a sociedade. Coisa que não tem sido feito. O povo tem sido, claramente, deixado de lado na aprovação de grandes reformas que lhes afetam diretamente.
Isso apenas mostra que há em nossa sociedade um grande divórcio entre as instituições e a sociedade. Os nossos legisladores não legislam para a sociedade. Os nossos governos não governam para o povo.
Isso é o que nos mostra o desenrolar das investigações da Lava Jato. Mostram-nos essas investigações que há sim uma parcela ínfima da população que é beneficiada por aqueles que fazem as leis em nosso país, e é justamente, a parcela mais abastada dentre o povo brasileiro, a que detém a maior fatia do bolo, a que merece mais atenção dos nossos políticos.
Tem-nos mostrado as investigações que a Câmara dos Deputados, bem como Senado Federal tem se tornado verdadeiros balcões de negócios do crime, no qual se vendem leis e medidas provisórias para as grandes corporações empresariais em troca de abastecer o caixa dos partidos e o bolso de seus integrantes com gordas propinas. Como diz o grande cacique desse mundo empresarial desonesto, Emílio Odebrecht, o empresariado brasileiro não sabe o que é de fato uma concorrência honesta, e quando eles queriam que eles aprendessem o de fato isso significava, enviavam seus subordinados ao exterior. É triste constatar isso, mas foram palavras que saíram da boca do empresário em delação premiada.
O atual presidente Michel Temer, conseguiu barrar a primeira denúncia contra ele na Câmara dos Deputados, à custa de muito dinheiro, e não se dúvida nada que consiga barrar também a segunda. Se os atores são os mesmos, se os nada republicanos métodos usados pela presidência da República são os mesmos, então é de se esperar que o resultado seja o mesmo: mais uma denuncia contra o presidente, arquivada.
Se Dilma não tinha dialogo com o Congresso, Temer ao contrário, tem um dialogo intenso com a referida instituição. São reuniões e mais reuniões, encontros às escondidas, distribuição de rios de dinheiro, principalmente quando se trata de defender os próprios interesses.
Porém, falta a Temer um dialogo com a sociedade. O nosso presidente não dialoga com os setores sociais, ele impõe. Impõe reformas, impõe medidas, e por aí vai. Talvez a noção que o presidente tem de pátria brasileira seja apenas sua cozinha em Brasília na qual são formados os conchavos que deixariam ruborizados até mesmo os grandes mestres na arte da propina.
Resumindo, o cenário político atual é devastador. Devastador pela falta de lideranças comprometidas de verdade com a nação brasileira. Como diria o poeta Cazuza, na canção, Ideologia: “meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder”.
O problema quando não tem se referencias de comando é, num ato de revolta, acabar caindo em uma enrascada maior ainda. Por exemplo, em um possível cenário para a corrida presidencial em 2018, despontam como líderes Lula — mesmo apesar de sua condenação pelo Juiz Sérgio Moro, a nove anos e seis meses de prisão — e Bolsonaro em respectivos primeiro e segundo lugar nas pesquisas eleitorais. Ora senhores e senhoras, Lula e Bolsonaro, não são alternativa, são ameaças.
A respeito do primeiro a intenção subliminar é esconder-se no manto da justiça para escapar dos crimes dos quais é acusado. E, quanto ao segundo, com suas ideias revolucionárias, sabe lá o que pode acontecer se ele chega ao poder.
Vamos ao Aécio. O senador afastado, Aécio Neves. O senado julga na próxima terça-feira, 17 o afastamento do senador. No dia 26 de setembro, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu afastar novamente o senador por três votos a 2. Esse mesmo STF, depois de muita polêmica, decidiu na quarta-feira (11), que é do Legislativo a palavra final sobre a suspensão de mandato de parlamentares pelo Judiciário.
Os ministros entenderam que as medidas cautelares contra parlamentares podem ser adotadas, mas a maioria decidiu que essas medidas só podem se tornar efetivas com o aval da Câmara ou do Senado.
O Senado articulava uma votação sigilosa para apreciar o caso de Aécio Neves. Porém, a Justiça Federal de Brasília determinou que fosse proibido fazer votação secreta no caso de Aécio. A decisão do juiz Márcio Luiz Coelho de Freitas se apoia no argumento de que a votação secreta seria danosa à moralidade administrativa.
Agora é aguardar e ver como se comportam os senadores nessa votação. Pela movimentação dos últimos dias a intenção deles é a de salvar o mandato do senador. Aécio Neves é acusado de pedir e receber R$ 2 milhões da JBS para pagar sua defesa na Lava Jato.
Um depoimento que também teve grande repercussão para fechar a semana, foi o do doleiro Lúcio Funaro. Funaro cita o nome de parlamentares do PMDB no esquema de corrupção, e do próprio presidente Michel Temer. São muitas histórias de corrupção contadas pelo doleiro em mais de 13 horas de gravação. Lúcio Funaro, era para o PMDB o que Marcos Valério era para o PT: o operador de um esquema criminoso e fraudulento.
Funaro cita nomes que são muito próximos do presidente Michel Temer, como o ex-deputado, Eduardo Cunha, e os ex-ministros Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima.
Na delação o doleiro fala ainda da propina paga ao atual presidente Michel Temer, do esquema de propina montado na Caixa Econômica Federal pelo grupo do PMBD, da atuação coordenada de Eduardo Cunha como intermediário no mundo dos negócios ilícitos, e da compra de parlamentares para aprovar leis que beneficiassem empresas.
E assim vai se desenvolvendo o governo Temer, um governo que ainda não governou de fato, e apenas vive de se defender das acusações que o jogam diretamente no mar de lama da corrupção.

0

Repensando caminhos para um mundo de paz

Posted by Cottidianos on 01:07
Domingo, 08 de outubro

Ascolta il tuo cuore se batte,
guarda dove corri e fermati,
Ascolta il dolore del mondo
Siamo persi per la via
Orfani di vita
Macchine da guerra
Ma perché?
(Macchine da Guerra – Andrea Bocelli)

Por hoje, fujamos um pouco do mundo cão da política, e falemos um pouco de paz. Creio que os acontecimentos violentos dos últimos dias, no Brasil, e no exterior, nos inspirem a isso.

O texto abaixo é inspirado em três canções: Sunshine on My Shoulders, Macchine da Guerra, e Heal The World, interpretadas respectivamente por: John Denver, Andrea Bocelli, e Michael Jackson.

É um texto que não se pretende longo, mas que pretende dizer algo e espero que diga.

***



Repensando caminhos para um mundo de paz

Coisa maravilhosa é sair pelas ruas dos campos ou das cidades em dia radiante de sol, e sentir o brilho do astro rei sobre os nossos ombros. Incidindo sobre os olhos o brilho ofuscante do sol nos faz chorar. Incidindo sobre as águas é puro balé da natureza. Fazendo-nos chorar ou sorri com o seu espetáculo sobre as águas, o brilho radiante do sol nos faz sentir vivos.

Deveríamos acordar todos os dias e ter a sensação de que estaríamos sempre experimentado a maravilha de olhar o mundo pela primeira vez, pois a primeira vez sempre nos encanta, nos extasia. Depois vamos nos acostumando às coisas e tudo passa a ser rotina e o que era extraordinariamente belo se torna coisa corriqueira.

Assim como deveríamos renovar, dia a dia, nosso olhar sobre o mundo, deveríamos remoçar nosso olhar sobre o amor, sobre o homem amado, sobre a mulher amada, sobre os filhos, sobre os ideais. Amor que se torna rotina acaba morrendo como flor que seca no jardim a espera de uma gota d’água que lhe torne de novo resplendorosa.

Afora, os acidentes naturais que nos pegam de surpresa, como os furacões e tempestades, o mundo sempre foi belo e continua sendo — mesmo e apesar da ação danosa do homem sobre o clima. O sol continua se levantando no leste e se deitando no oeste. Isso há séculos. Por certo que ele está um pouco tórrido, também devido aos efeitos climáticos. É como se o homem com sua falta de bom senso continuasse, ano após ano, cutucando, provocando, o astro rei. E se ele se zanga, como tem dado mostras de que está ficando zangado, aborrecido, então, por certo, jogará suas flechas de fogo sobre a terra e... era uma vez um planeta.

Assim com o sol, assim também com a lua e seu séquito de estrelas. Ela continua servindo de inspiração para os poetas e trovadores. Solta e leve no ar como uma pluma dourada ela nos olha, nos espia, de longe, suspira por nós, ou será que nos implora para que façamos algo para salvar o planeta?

Guerras sempre existiram. O mal sempre existiu. Assim como também sempre existiram a paz e o bem. Talvez um dia o mundo já tenha sido um jardim do Éden, no qual tudo funcionava em plena paz e harmonia, mas estes dias parecem muito longínquos e distante. A serpente parece ter enganado o homem com o veneno do poder e lhe disse que ele poderia ser maior que Deus. E o que é pior é que o homem parece ter acreditado nisso, e, talvez, quem sabe, esse tenha sido a derrocada do paraíso.

E, como um Deus desastrado, às avessas, o homem criou armas para destruir e remédios para curar. Criou aviões para encurtar as distâncias e fez, desses mesmos aviões, armas de matar uns aos outros. Em um mesmo ambiente, e no mesmo plano ergueu castelos e favelas, mostrando um imenso desnível social, e o chão que está desnivelado, desequilibrado está, e onde há desequilíbrio falta harmonia, e onde falta a harmonia impera a inquietação, a angústia, o desespero, e a violência.

Misturado a tudo isso veio a correria dos tempos modernos. Como uma máquina o homem corre para cá e para lá o dia inteiro, o mês inteiro, o ano inteiro. Tornou-se peça de um sistema que não o deixa parar. Se parar, torna-se peça gasta e tendente a ser excluída do funcionamento da grande máquina capitalista.

Sem tempo para nada mais nada, imerso no trabalho, nos estudos, nos Whats e Faces, o homem se esqueceu de que é homem, humano, natural, finito. Esqueceu de que há um sol que nasce todos os dias para iluminar-lhe, e depois se despede para que venha a noite para lhe dar descanso. Esqueceu-se de olhar para o céu imenso e contemplar a beleza dos astros e estrelas que luzem em galáxias distantes, mas que parecem tão próximas.

E o que é pior, esquecendo de olhar a natureza, o ser humano esqueceu-se de olhar para o outro, seu semelhante, e reconhecer nele um igual. E esquecendo-se de que o outro é um semelhante, um igual, tornou-se máquina de guerra.

Tendo se tornado máquina de guerra, instalou-se na raça humana, uma grande confusão dentro, e ao redor de nós. Talvez a confusão não seja culpa nem minha nem sua, nem deste ou daquele, mas ela se instalou de tal que forma que deu um nó nas relações sociais que está difícil de desatar.

Fragilizadas as relações interpessoais é como se caminhássemos como nossos pés descalços sobre vidros quebrados, esfacelados, ou ainda que nos tocássemos uns aos outros com mãos sujas.

É como se a sociedade fosse uma grande casa de máquinas com as peças desgastadas. Os costumes estão danificados, fragilizados, para onde quer que se olhe vê-se um rio do corrupção correndo livre e abundantemente, em todos os setores sociais: na política, na polícia, nos hospitais, nas escolas, na igreja. Não escapa nenhuma instituição, pois cada instituição é formada por homens e mulheres nem sempre de boa vontade. Com as instituições fragilizadas, todo gesto, até mesmo os de solidariedade parecem fracos, vagos, dissociados de seu real objetivo.

Não podemos caminhar assim, à mercê da própria sorte, e sendo joguetes dos fatos e acontecimentos diários. Devemos escutar nosso coração e fazer um esforço maior ainda para ouvir o coração do outro que caminha ao nosso lado. Ele está batendo? O sangue que bombeia é sangue ou veneno? Temos de nos encontrar urgentemente enquanto raça humana. Não podemos caminhar por aí como se fossemos órfãos de vida, propensos a nos tornar máquinas de guerra.

O mundo está parecendo um ancião velho e doente para o qual é preciso urgentemente um remédio eficaz que lhe traga a cura. Assim como também é preciso procurar com afinco a fonte da juventude que lhe traga rejuvenescimento.

O mundo está assim, mas o mundo não passará, bem ou mal ele permanecerá, nós é que passamos. E por isso, é preciso buscar uma cura para nós mesmo, uma fonte de rejuvenescimento para nossos pensamentos envelhecidos e retorcidos pelo preconceito e pela falta de bom senso. É preciso abrir um pequeno espaço, não precisa ser muito grande, mas o suficiente para plantar dentro dele as sementes do amor e da paz. Isso se você se importa com mundo. Isso se você não quiser naufragar no meio da confusão moderna.

Não podemos ter medo de nadar contra a corrente, de parecer diferente ao afirmar que queremos viver em um mundo de paz. Paz não é utopia como muitos pensam e defendem em suas teorias filosóficas, pois paz é um sentimento que brota de cada coração, e quando os corações se juntam em um mesmo sentimento nobre tornam-se como chuva fininha a irrigar o solo e deixá-lo pronto para produzir alimentos da melhor qualidade.

0

Suseranos, vassalos e camponeses no feudo Brasil

Posted by Cottidianos on 00:16
Domingo, 01 de outubro

“- Somos soldados.
- Não, não são.
Soldados lutam por uma causa.
Vocês não têm uma.
Isso os torna larápios.
Ladrões comuns.

(frase do filme Hobin Hood)


Eles lotearam o Brasil. Fizeram do Brasil um grande feudo, e se proclamaram reis quando eram apenas servidores da nação. E na indevida condição a que se alçaram esqueceram que vieram para servir e mentiram e enganaram e roubaram.
Convido-os a viajar para tempos longínquos, até a Idade Média, terra de castelos, reis e princesas que ainda hoje povoam o imaginário popular, e inspiram sonhos, filmes, e jogos... Uma era de sonhos e magia... Ah, mas não se enganem. A vida naqueles tempos não era nada fácil se comparados aos tempos moderno. O conforto era quase inexistente. Idem para tecnologia. Obviamente os mais abastados tinham seus privilégios, mas o cenário geral era comum a todos.
Em nossa viagem imaginária para a Idade das Trevas, como também é conhecida essa época, podemos vislumbrar grandes quantidades de terra... Terra a perder de vista. São os feudos. Estas terras estavam sempre sob o domínio de nobres que detinham a posse delas, e era por isso eram chamados senhores feudais.
Havia duas maneiras de se adquirir um feudo: por herança familiar ou por doação de outro senhor feudal. Aquele que doava recebia o nome de suserano e quem recebia era o vassalo. Deixemos de lado a primeira forma e nos concentremos na segunda.
A terra, o feudo era doado entre “aspas”, pois aquele que recebia a doação, o vassalo, precisava firmar um pacto militar com o suserano em caso de guerra com outros senhores feudais. Na verdade, recebia-se a doação de um feudo na qual estava implícita um pacto de lealdade.
Ah, não nos esqueçamos dos famosos castelos com suas torres e fortalezas, que até hoje povoam o imaginário popular. Era ele o centro de poder econômico e político.
Ainda no feudo habitavam os camponeses pobres: o elo mais fraco da corrente. Hoje, diríamos os explorados, os esmagados na base da pirâmides. Aqueles dos quais eram vertidos suor e sangue para bancar o luxo dos poderosos.
Esses tinha uma vida muito difícil e o horizonte e o norte que enxergavam pela frente não lhes vislumbravam grandes possibilidades de mudanças ou melhorias. Era mais ou menos assim: eles olhavam e olhavam e o que viam era apenas um horizonte cinzento.
Além dos parcos recursos que experimentavam, esses ainda contavam com a vigilância diária e severa do senhor feudal. Pobres camponeses... Trabalhavam a terra para enriquecer o senhor feudal. Enquanto isso, havia uma família em casa precisando de cuidados, havia uma casa a manter, habitação essa que, em geral era precária e fria, que facilmente se deteriorava com o decorrer do tempo.
Por causa dessa relação injusta entre senhor feudal e camponeses havia muitas revoltas destes últimos que ora fugiam para as florestas e atacavam as caravanas dos nobres, ora fugiam para outros feudos em busca de melhores condições de vida.
Os camponeses estavam perto da realeza, mas abandonados à própria sorte em uma época em que não havia hospitais, nem escolas, nem delegacias, ou qualquer benesse que lhes pudesse ser um alívio na caminhada.
Finalizemos nossa breve e fantástica viagem pelos tempos dos reis, princesas, suseranos, vassalos, camponeses pobres, e como num passe de mágica voltemos ao nosso tempo presente, mais precisamente ao nosso barco chamado, Brasil.
Depois dessa nossa curta estada em uma época completamente diferente da nossa, voltemos ao presente e façamos um paralelo e nos parecerá que já se vão longe os tempos em que os castelos eram o centro do poder econômico e político — excetuando umas poucas nações onde isso ainda ocorre — entretanto as estruturas antigas parecem ter reencarnado nas estruturas atuais, até mesmo dos países ditos democráticos.
Em nossa pátria, não temos castelos como centro de poder, mas temos o Palácio do Planalto, e temos o Congresso Nacional.
O Brasil, em seu imenso território, com mais de 207 milhões de habitantes e seus 8.516.000 km2 é um enorme feudo.
O presidente da República, em nosso paralelo com o tempo dos feudos, funcionaria como o nobre que é dono do feudo, e os deputados, senadores, e empresários como os vassalos. 
Aqui tudo parece funcionar na base do “toma-lá-dá-cá”. O suserano doa, oferece vantagens, mas em troca espera e exige lealdade.  
O povo, principalmente, a parcela da população mais necessitada, assemelha-se aos camponeses pobres que eram explorados pelo dono do feudo. Os camponeses de hoje pagam fortunas ao dono do feudo (o Estado) em impostos e não ver retorno do pagamento dessas taxas. Em muitas localidades desse imenso rincão chamado Brasil — principalmente, naquelas áreas esquecidas pelo Estado — não há escolas, e os alunos tem que caminhar a pé por quilômetros se quiserem chegar a elas. Nessas áreas, quando há transporte, ele é muito precário. E quando há escolas elas chegam a dar vergonha em que tem consciência do que é educação e do que ela representa para uma sociedade que se pretende desenvolvida. Idem para os hospitais públicos
Um pequeno exemplo. Mau exemplo. O telejornal matinal, Bom Dia Brasil, mostrou uma reportagem em 22 de setembro, que mostrava uma escola interior da Bahia improvisada, pasmem os senhores e senhoras, dentro de um açougue. Isso mesmo aquele estabelecimento comercial no qual vamos comprar as carnes saborosas que deliciam nosso paladar.
Durante a semana funciona a escola e no domingo, o açougue. Nela estudam alunos entre 8 e 13 anos de idade, filhos de camponeses pobres da região. Essa situação perdura já há quatro meses quando a prefeitura transformou o espaço no qual a escola funcionava em creche. A prefeitura resolveu então mudar a escola para o açougue. Em meio a giz e quadro negro, também improvisado, ficam ganchos, freezers, e troncos de madeira. A instalação elétrica é deficitária. Nem banheiro há na escola. Os alunos usam um banheiro público próximo à ela. Procurado pela equipe de reportagem, o secretário municipal de educação afirmou que, no máximo dentro de dias, a situação seria sanada. Uma vergonha, pois a manifestação do secretário só foi expressada depois da denúncia e de saber que a situação daquelas pobres crianças seria mostrada em rede nacional.
Na Idade Média não havia meios de reagir ao poder militar do senhorio, mas hoje há a arma do voto. Porque não usá-la?
Outro exemplo que mostra essa relação de vassalagem entre o governo o Congresso foi o que aconteceu durante a primeira denúncia contra o presidente Temer quando ela chegou à Câmara dos Deputados. Naquela ocasião, o governo liberou milhões de reais para os deputados que votassem contra o prosseguimento da denúncia.
Apenas no mês de julho deste ano, foram liberados cerca de R$ 134 milhões em emendas parlamentares. Isso sem contar nos cargos que foram oferecidos pelo governo aos partidos. Os deputados usaram como desculpa para votar contra o prosseguimento da denúncia, desculpas hipócritas e demagógicas, afirmando que faziam aquilo pelo bem do Brasil e para não prejudicar ainda mais a economia.
Agora, quando da apresentação de segunda denúncia, as coisas parecem caminhar no mesmo rumo. Levantamento feito pelo partido Rede Sustentabilidade mostra que o governo liberou nesse mês de setembro, e já no segundo dia da denuncia, cerca de R$ 65 milhões de reais em emendas parlamentares. Com certeza voltará também o balcão de negócios de cargos no governo.
Isso faz lembrar uma frase do empresário corrupto Joesley Batista. O empresário disse em entrevista à revista Veja, quando do estouro do escândalo das gravações comprometedoras dele com Michel Temer, que o presidente é uma pessoa sem escrúpulos quando se trata de falar de dinheiro. Hoje, vemos que o presidente parece ser sem escrúpulos também quando se trata de se manter no poder a qualquer custo. Não estranhem os senhores e senhoras se, mais uma vez, a Câmara dos Deputados votar contra o não prosseguimento da denúncia.
Ontem, o presidente se reuniu com aliados para definir estratégias de defesa, quando na verdade, e sem querer fazer trocadilhos, a melhor estratégia de defesa é a verdade. Uma sutil estratégia de defesa de Temer foi transformar a  Secretária-Geral da Presidência da República, em ministério, o que garantiu a Moreira Franco, o status de ministro. O fato se deu em final de junho deste ano. Moreira Franco também é citado nas denuncias de corrupção que atingem o governo.
E essa transformação do Brasil em feudo não se deu agora com o presidente Michel Temer. Antes tivesse sido assim. Seria bem mais fácil acabar com essa prática nefasta. Ao contrario, ela já vem desde os tempos do então presidente Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, se bem que maneira ainda tímida, e ganhou corpo e força durante os governos petistas de Lula e Dilma.
Falando do ex-presidente, em vídeo que circula pelo Whattsapp, ele, em discurso, afirma coisas estarrecedoras, dessas de deixar os cabelos em pé. No vídeo não há data definida, e nele Lula afirma que as pessoas devem se filiar ao PT porque o PT precisa convencer as pessoas a negar a política. “fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia” afirma ele, no que parece ser uma palestra para seus seguidores.
Lula diz ainda no vídeo que se deve discutir política cultural apenas em época de eleição, pois “o que menos interessa é o país”, diz ele. “Então o que eu queria sugerir ao partido: qualquer outra coisa, menos democracia”, continua ele.
O que esperar de um ex-presidente com esse tipo de pensamento, caros leitores e leitoras? É desse tipo de pessoa no meio político que a população brasileira precisa se livrar o mais rápido possível. Não podemos mais deixar o Brasil nas mãos de quadrilhas que tomam de assalto o Estado brasileiro, sejam elas de esquerda, de centro, de situação ou de oposição.
Por falar em oposição, faz tempo que ela deixou de existir no Brasil em seu sentido pleno. A oposição que se faz hoje ao governo é coisa de fachada, coisa “pra inglês ver”, como diz o ditado popular.
Ora, você já viram organizações criminosas se acusarem mutuamente em público, e uma denunciar a outra à justiça. Não isso não acontece. Por mais que sejam discordantes, as organizações criminosas agem dentro de um padrão “ético”.
Por acaso, algum dos senhores e senhoras, em meio a toda essa explosão de escândalos de corrupção, de malas de dinheiro que viajam pelo país, da dinheirama distribuída em propina, algum dos senhores e senhoras, já viu, por exemplo, Temer acusar Lula, Lula acusar Aécio, Aécio condenar a Dilma em público? O PSDB até apresentou um recurso para tornar invalida as eleições presidências de 2014, mas era tudo fachada, e o interesse no processo acabou quando Dilma sofreu impeachment, e o partido ganhou sua fatia de poder no governo Temer.
As organizações se protegem umas às outras porque todas usam dos meios nefastos de ação. É triste perceber que no Brasil atual partidos políticos se transformaram em organizações criminosas.
Também achei interessante, compartilhar com os leitores e leitoras, a carta escrita pelo ex-integrante do PT e um dos homens de confiança de Lula e Dilma. A carta de desfiliação de Antonio Palocci do Partido dos Trabalhadores, liga Lula à corrupção. É um documento importante para compreender mais uma parte importante do momento político pelo qual o PT atravessa.
***
Carta de desfiliação de Antonio Palocci do PT, íntegra.

Antonio Palocci

 Senhora Presidente, (presidente do PT, Gleise Hoffmann)
Soube pela imprensa da abertura do processo disciplinar pelo PT-RP, bem como de minha suspensão pelo Diretório Nacional por 60 dias. Confesso minha estranheza sobre o conteúdo do referido processo. Neste último período, havia me preparado para enfrentar junto ao partido um procedimento de natureza ética frente à recente condenação que sofri na 13ª Vara Federal de Curitiba, pelo DD. Juiz Sérgio Fernando Moro. Pensava ser normal que o partido procurasse saber as razões que levaram a tal condenação e minhas eventuais alegações. Mas nada recebi sobre isso.
Recebo agora as notícias de abertura de procedimento ético em razão das minhas declarações no interrogatório judicial ocorrido no último dia 6/9/2017, sobre ilegalidades que cometi durante os governos de nosso partido.
O procedimento questiona minhas afirmações a respeito do ex-presidente.
Sobre isso, tenho a dizer que:
1) Há alguns meses decidi colaborar com a Justiça, por acreditar ser este o caminho mais correto a seguir, buscando acelerar o processo em curso de apuração de ilegalidades e de reformas na legislação de procedimentos públicos e na legislação partidária-eleitoral, que reclamam urgente modernização.
2) Defendo o mesmo caminho para o PT. Há pouco mais de um ano tive oportunidade de expressar essa opinião de uma maneira informal a Lula e Rui Falcão, então presidente do PT, que naquela oportunidade transmitia uma proposta apresentada por João Vaccari, para que o PT buscasse um processo de leniência na Lava Jato.
3) Estou disposto a enfrentar qualquer procedimento de natureza ética no partido sobre as ilegalidades que cometi durante nossos governos, as razões e as circunstâncias que me levaram a estes atos e, mesmo considerando a força das contingências históricas, suportar pessoalmente as punições que o partido julgar cabíveis.
4) Não vejo possibilidade, entretanto, de colaborar no processo aberto pelo partido sobre minhas afirmações quanto às responsabilidades do ex-presidente Lula nas situações citadas por ocasião do interrogatório de 6/9/2017. Isso porque tais questões fazem parte do processo de negociação com o MPF, e tal procedimento encontra-se envolto em sigilo legal. Foi por isso que naquela oportunidade limitei-me a fatos relacionados àquele processo. Dito isto, declaro minha disposição de responder aos questionamentos do partido sobre qualquer tema, logo após os prazos legais.
5) De qualquer forma, quero adiantar que, sobre as informações prestadas em 6/9/2017 (compra do prédio para o Instituto Lula, doações da Odebrecht ao PT, ao Instituto e a Lula, reunião com Dilma e Gabrielli sobre as sondas e a campanha de 2010, entre outros) são fatos absolutamente verdadeiros. São situações que presenciei, acompanhei ou coordenei, normalmente junto ou a pedido do ex-Presidente Lula. Tenho certeza que, cedo ou tarde, o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer no “mensalão”, quando, numa importante entrevista concedida na França, esclareceu que as eleições no Brasil eram todas realizadas sob a égide do caixa dois, e que era assim com todos os partidos. Naquela oportunidade ele parou por aí, mas hoje sabemos que é preciso avançar na abertura da caixa preta dos partidos e dos governos, para o bem do futuro do país.
6) Ressalto que minha principal motivação nesse momento é que toda a verdade seja dita, sobre todos os personagens envolvidos.
7) Sob o ponto de visa político, estou bastante tranquilo em relação a minha decisão. Falar a verdade é sempre o melhor caminho. E, neste caso, não posso deixar de registrar a evolução e o acúmulo de eventos de corrupção em nossos governos e, principalmente, a partir do segundo governo Lula.
Vocês sabem que procurei ajudar no projeto do PT e do presidente Lula em todos os momentos. Convivi com as dificuldades e os avanços. Sabia o quanto seria difícil passar por tantos desafios políticos sem qualquer desvio ético. Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumo minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo. Com o pleno emprego conquistado, com a aprovação do governo a níveis recordes, com o advento da riqueza (e da maldição) do pré-sal, com a Copa do Mundo, com as Olimpíadas, “o cara”, nas palavras de Barack Obama, dissociou-se definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do “tudo pode”, do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos.
Alguém já disse que quando a luta pelo poder se sobrepõe à luta pelas ideias, a corrupção prevalece. Nada importava, nem mesmo o erro de eleger e reeleger um novo governo, que redobrou as apostas erradas, destruindo, uma a uma, cada conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados, sobrando poucas boas lembranças e desnudando toda uma rede de sustentação corrupta e alheia aos interesses do cidadão. Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão igual ao pior dos costumes políticos.
Um dia, Dilma e Gabrielli dirão a perplexidade que tomou conta de nós após a fatídica reunião na biblioteca do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom,  sem  cerimônias, na cena mais chocante que presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda a nossa história.
Enfim, é por todas essas razões que não compreendo o processo aberto agora. Enquanto os fatos me eram imputados e eu me mantive calado não se cogitava a minha expulsão.  Ao contrário, era enaltecido por um palavrório vazio. Agora que resolvo mudar minha linha de defesa e falar a verdade, me vejo diante de um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT. Qual o critério do partido? Processos em andamento? Condenações proferidas? Se é este o critério, o processo de expulsão não deveria recair apenas contra mim.
Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do “homem mais honesto do país” enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?
Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?
Chegou a hora da verdade para nós. De minha parte, já virei essa página. Ao chegar ao porto onde decidi chegar, queimei meus navios. Não há volta. Depurar e rejuvenescer o partido, recriar a esperança de um exercício saudável da política será tarefa para nossos novos e jovens líderes. Minha geração talvez tenha errado mais do que acertado. Ela está esgotada. E é nossa obrigação abrir espaço a novas lideranças, reconhecendo nossas graves falhas e enfrentando a verdade. Sem isso, não haverá renovação.
E tenho razões ainda maiores. Nas últimas décadas, sempre me decidi pelo PT, pela política, e minha família sempre aceitou, suportou e sofreu com isso. Agora decidi pela minha família! E o fiz com a alma tranquila.
Desde que fundei o PT há 36 anos, em Ribeirão Preto com um grupo de amigos, na sede do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina, entre 1980/1981, dediquei-me totalmente ao partido, à política e a nossos governos.
Tive a honra e a felicidade de ser vereador e prefeito de minha cidade por duas vezes. Tive a honra de servir aos governos de Lula e Dilma. Enfrentei como Ministro da Fazenda uma das mais duras crises econômicas de nossa história, mas a competência de meus assessores permitiu um trabalho com fortes e duradouros resultados. Nunca supus que o governo tenha desandado com minha saída em 2006. Na verdade, o caminho até a crise de 2008 foi, do ponto de vista do projeto de desenvolvimento, de grande sucesso. Mas, como o ovo da serpente, já se via, naqueles melhores anos, a peçonha da corrupção se criando para depois tomar conta do cenário todo.
Coordenei várias campanhas eleitorais, em vários níveis e pude acompanhar de perto a evolução de nosso poder e nossa deterioração moral. Assumo todas as minhas responsabilidades quanto a isso, mas lamento dizer que, nos acertos e nos erros, nos trabalhos honrados e nos piores atos de ilicitudes, nunca estive sozinho.
Por isso concluo:
1) Continuo a apoiar a proposta de leniência do PT.
2) Após respeitar os prazos legais de sigilo quanto a  minha colaboração com a Justiça, terei toda a disposição para esclarecer e depor perante o partido sobre todos esses temas.
3) Com humildade, aceitarei qualquer penalidade aprovada. Mas ressalto que não posso fazê-lo neste momento e neste formato proposto pelo partido onde quem fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para debaixo do tapete.
Por todas essas razões, ofereço a minha desfiliação, e o faço sem qualquer ressentimento ou rancores. Meu desligamento do partido fica então à vossa disposição.
Saudações cordiais,

Copyright © 2009 Cottidianos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates