5

O trágico fim do menino Bernardo Boldrini - Parte I

Posted by Cottidianos on 23:12
Quarta-feira, 23 de abril


Suplicando por uma ajuda...

Fazia uma tarde quente no dia 24 de janeiro deste ano, quando um menino de 11 anos, magro, cabelos castanhos, olhar triste e fala macia entrou nas dependências do Fórum de Três Passos e, após informar-se na portaria, foi encaminhado à sala onde ficava o Centro de Direitos da Criança e do Adolescente, da cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul. Vestia-se de modo simples e apesar, da pouca idade, demonstrava atitude de alguém determinado, que sabe o que quer.

Os funcionários que trabalhavam na área de proteção à criança e ao adolescente estavam acostumados a lidar com casos graves tais como; violência, drogas e abuso sexual. Geralmente esses casos, apesar de envolverem crianças e adolescentes, eram tratados diretamente com adultos. Por isso, acharam bastante atípico o fato de uma criança ir sozinha ao Fórum, mesmo assim, ouviram com atenção as queixas do garoto. O menino se apresentou como Bernardo Uglione Boldrini e relatou que estava ali porque queria ser adotado por outra família. Segundo contou ele, a madrasta,Graciele Ugulini,  o tratava com desprezo e o pai,Leandro Boldrini,  o ignorava por completo. Havia, no relato do garoto, um mixto de tristeza e convicção, que convenceu os funcionários a levá-lo à sala da Promotora da Infância e da Juventude, Dinamárcia Maciel de Oliveira.

Dinamárcia já trabalhava há tempo o suficiente no Ministério Público, para saber ouvir o coração das crianças e adolescentes aos quais tinha que ajudar, a maioria deles, vivendo situações complexas. A promotora pegou o menino no colo, como faria uma mãe e deixou que ele falasse das angustias que eram o motivo de seu sorriso triste e olhar melancólico. Sentindo-se acolhido, o menino, que, durante anos, permaneceu calado, sofrendo em silêncio, resolveu falar. Disse a Dinamárcia que se sentia excluído das relações familiares e que não desfrutava do carinho e da atenção do pai e da madrasta. Falou de seus ambiciosos sonhos: ter um peixinho de aquário e assistir uma partida de futebol, no estádio Arena do Grêmio, em Porto Alegre, junto com o pai. Repetiu à promotora o que já havia dito aos funcionários que o atenderam por primeiro: que deseja ser adotado por uma nova família. Havia uma família com a qual ele, geralmente passava os fins-de-semana: a família Petry, e essa era a sua preferência.

A promotora procurou os Petry e falou a eles do que ocorrera no Fórum e do desejo do menino de ser adotado por eles. Apesar de gostar muito do guri, o casal dos Petry, também faziam parte do círculo de amizades dos Boldrini e não quiseram se indispor com o pai de Bernardo. Encontravam-se eles, diante de uma situação constrangedora e não aceitaram as considerações feitas por Dinamárcia.

Diante da negativa da família Petry, a promotora decidiu ir por outro caminho. No dia 31 de janeiro, entrou com um pedido de transferência da guarda do menino para a avó materna, Jussara Uglione. Aberto o processo civil, o juiz Fernando Vieira dos Santos, da Vara da Infância e Juventude, acolheu, em audiência, o pedido para que a guarda de Bernardo fosse transferida para a avó. Nessa mesma ocasião, o juiz marcou uma audiência, na qual ouviria o pai de Bernardo.

A audiência com Leandro Boldrini aconteceu 11 dias depois. Durante a realização desta, o pai do garoto pediu ao juiz uma segunda chance de reaproximação com o filho e comprometeu-se a, a partir daquele momento, ser mais atencioso e carinhoso para com Bernardo.  Comprovado que, aparentemente, o garoto não era vítima de violência física, o juiz aceitou o pedido de segunda chance, e concedeu ao pai do garoto um prazo de 90 dias para que pudesse reavaliar o caso e marcou nova audiência para o dia 13 de maio, a fim de verificar se havia ocorrido algum progresso na relação pai-filho. 

Infelizmente, o prazo concedido pelo juiz não pode ser concretizado. Um crime bárbaro impediria que a nova audiência que, definitivamente, selaria a paz entre pai e filho, acontecesse.

Uma vida como a que Bernardo levava não podia passar despercebida numa cidade com pouco mais de vinte mil habitantes. Muita gente sabia da relação difícil que ele tinha com a madrasta e do abandono a que era relegado por parte do pai.

A primeira denúncia que chegou à Promotoria da Infância e da Juventude foi ao final de ano passado, em novembro. Uma Assistente Social denunciou perante o órgão competente, a situação de abandono ao qual o menino era submetido.  A promotoria resolveu então abrir um expediente para verificar a situação familiar do filho do médico cirurgião. O conselho tutelar da cidade fez as averiguações de praxe e, em 29 de novembro, enviou um relatório aos promotores da infância e da juventude no qual atestava que, realmente, o menino Bernardo vivia numa situação de abandono perante a família. Enfatizava ainda a necessidade de um acompanhamento ao garoto e destacava a relutância do pai em ajudar a resolver o problema. Dizia ele, com certa arrogância, que estava tudo bem e que o conselho tutelar fosse resolver problemas mais urgentes. Coincidentemente, nesse mesmo dia a promotoria também recebeu uma carta da escola onde Bê _ como era chamado pelos amigos mais íntimos _ estudava, na qual havia relatos de que ele possuía sérios problemas afetivos e o pai não dava a mínima importância para esse fato.

Em 03 de dezembro, o conselho tutelar entregou novo relatório a procuradoria relatando novos aspectos da questão, como por exemplo, uma família que havia acolhido Bernardo e na casa de quem ele, muitas vezes, ficava. Os conselheiros tutelares estavam trabalhando seriamente para que a situação fosse resolvida da melhor maneira possível. Eles procuraram Leandro Boldrini novamente e , dessa vez, marcaram uma consulta com um psicólogo para que este conversasse com Bernardo. Fazendo pouco caso da situação, o pai não levou o filho para a entrevista com o psicólogo e, de forma arrogante, se recusava a receber os conselheiros. Poucos dias depois, foi a vez do advogado da avó materna, Jussara, pedir à procuradoria os documentos que instruíam o processo e que sua cliente pretendia ficar com a guarda do neto.

Quando Bernardo entrou pela porta do Fórum, naquele 24 de janeiro, os funcionários e a promotoria já eram sabedores do caso. Só não esperavam que Bernardo, fosse sozinho e de livre e espontânea vontade, pedir à justiça, dois valiosos bens e que lhe eram tão escassos: carinho e atenção. Naqueles dias, o processo estava prestes a ser concluído. A promotora aguardava apenas o depoimento da avó. Entretanto, após conversar com Leandro e com a mulher dele, o juiz entendeu por bem que fosse tentada uma reconciliação.

Três dias antes de desaparecer, Bernardo passava em frente ao Fórum, junto com uma mulher, sua amiga, quando avistou Dinamárcia na calçada, os dois se cumprimentam de longe, trocaram um sinal de que estava tudo ok, e ele seguiu em frente. Dinamárcia ficou tranquila ao ver que o menino parecia bem. Bernardo virou-se para a mulher que o acompanhava e disse esperançoso, apontando para a promotora: “Essa é a mulher que vai mudar a minha vida”. Infelizmente, Dinamárcia não teria mais tempo para isso.




5 Comments


Bernardo, o Brasil te ama. O Rio Grande do Sul te ama. Os demônios que te mataram arderão no inferno.Espero que alguma justiça seja feita, o mais rápido possível. Como é triste a tua história de vida. Mas você tinha fé e tua memória clama por justiça. Rio Grande Do Sul , faça justiça por esta inocente criança.Luciana Leal.


Justiça seja feita, e que eles paguem por tudo que fizeram. Esse crime não pode cair no esquecimento. Jamais esquecerei de sua historia Bernardo, jamais me esquecerei de você. Descanse em paz Anjo Lindo.


Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, ainda mais de um menino indefeso, que nunca fez mal, somente queria atenção, carinho, amor. Tão monstruoso foi esse crime, tanta frieza na execução...indiscutívelmente esses monstros que arquitetaram passo a passo essa crueldade, não devem ficar livres, no convívio social, para eles pena máxima é pouco.


Este comentário foi removido pelo autor.

A promotora poderia ter feito alguma coisa para ajuda-lo... nao fez.

Postar um comentário

Copyright © 2009 Cottidianos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates